A uma passante
A rua em derredor era um ruído incomum,
Longa, magra, de luto e na dor majestosa,
Uma mulher passou e com a mão faustosa
Erguendo, balançando o festão e o debrum;
Nobre e ágil, tendo a perna assim de estátua exata.
Eu bebia perdido em minha crispação
No seu olhar, céu que germina o furacão,
A doçura que embala e o frenesi que mata.
Um, relâmpago e após a noite! - Aérea beldade,
E cujo olhar me fez renascer de repente,
Só te verei, um dia e já na eternidade?
Bem longe, tarde, além, jamais provavelmente!
Não sabes aonde vou, eu não sei aonde vais,
Tu que eu teria amado - e o sabias demais!
flanerie e linguagem
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sexta-feira, 2 de março de 2012
Mulher-totem
O poema"A uma passante" de Baudelaire e a música "As vitrines" de Chico Buarque mantêm entre si certas semelhanças quanto ao objeto de exegese do flâneur em manifestações literárias contemplativas da visão do homem moderno. O eu-lírico acompanhado nos dois casos referidos participam de um estado de delírio ou euforia ao deslumbrar-se na observação da "mulher-totem", pois ela não é mais musa e sim adorno da cidade, instante de poesia flagrado; que não se deixa notar e depois se evola no meio da multidão. Afinal, ela também é uma heroína da modernidade e como o flâneur compõe o quadro da cidade do qual todos estão imersos em suas individualidades.
Por Stéphanie.
quinta-feira, 1 de março de 2012
Baudelaire e sua definição de flâneur
Para o perfeito flâneur, para o observador apaixonado, é um imenso
júbilo fixar residência no numeroso, no ondulante, no movimento, no fugidio e no infinito. Estar fora de casa, e, contudo sentir-se em casa onde
quer que se encontre; ver o mundo, estar no centro do mundo e permanecer oculto ao mundo, eis alguns dos pequenos prazeres desses espíritos
independentes, apaixonados imparciais, que a linguagem não pode definir senão toscamente. O observador é um príncipe que frui por toda a
parte o fato de estar incógnito. (1996, p. 22)
quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012
O flâneur em Chico Buarque
AS VITRINES
Eu te vejo sumir por aí
Te avisei que a cidade era um vão
- Dá tua mão
- Olha pra mim
- Não faz assim
- Não vai lá não
Os letreiros a te colorir
Embaraçam a minha visão
Eu te vi suspirar de aflição
E sair da sessão, frouxa de rir
Já te vejo brincando, gostando de ser
Tua sombra a se multiplicar
Nos teus olhos também posso ver
As vitrines te vendo passar
Na galeria, cada clarão
É como um dia depois de outro dia
Abrindo um salão
Passas em exposição
Passas sem ver teu vigia
Catando a poesia
Que entornas no chão
sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012
O que é a flânerie?
Flânerie deriva da palavra flâneur,aquele que flana, caminha, passeia. O sentido de flanar conduz a uma travessia pela cidade, não
somente a física; mas também, a criada pela urbe que habita em nós, na medida
em que somos constituídos por relações imaginárias. Ou seja, flanar baseia-se num
percurso épico que o flâneur empreende por muito conhecer a cidade. Embora o
seu olhar sempre seja o do distanciamento, ele é antes de tudo um observador
que sente a cidade,” ele busca asilo na
multidão” como bem disse Walter Benjamin.
Dito isto a flânerie é o meio pelo qual se pode contemplar a cidade sem ser
dela integrado, pois esse circular investigativo na cidade envolve reflexão e compreensão
dos fenômenos que a envolvem.
Por Stéphanie
Por Stéphanie
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